A Ultima Musica

Melissa e Ian no asilo
     Minha mae me dizia quando eu era pequena que eu sempre tive poucos, mas otimos amigos, e essa eh uma realidade ate os dias de hoje. Esse ano fiz amizade com uma mulher que os filhos dela sao amigos estavam na mesma classe que as criancas que eu cuido, entao eles sao super amigos, e isso tambem gerou uma grande amizade entre nos. O nome dela eh Melissa, e em um post em breve falo mais sobre ela, porque nesse post quero comentar sobre uma amizade ainda mais recente e que teve um grande impacto em minha vida.
     Conheci a Amanda no comeco desse semestre, cerca de um mes atras, na minha aula de auxiliar de enfermagem. Logo no segundo dia de aula combinamos de fazer a licao de casa juntas porque era muita e sozinha nao terminariamos nunca em tempo. Nos encontramos alguns dias depois e passamos o dia enfiadas num McDonald’s fazendo a bendita licao. E no meio de muita brincadeira, risadas e reclamacoes sobre a nossa licao, ela me solta a “bomba”: ela tem o pai, a mae e a sogra em um asilo aqui, e a mae dela esta com a saude muito debilitada, pois os rins dela pararam de funcionar e por ser diabetica, ela nao eh candidata a transplante ou hemodialise. O pai e a sogra tiveram derrame, entao eles tem um lado do corpo paralizado. Deixa so eu explicar que asilo aqui (e creio que no Brasil tambem) nao eh apenas pra abandonar os velhinhos que a familia nao quer mais, mas eh tambem um lugar onde as pessoas que nao conseguem mais fazer as atividades do dia a dia sozinha sao ajudadas pelas enfermeiras. Alem de tudo isso, o marido dela foi atingido por essa crise economica que teve aqui, entao eles tambem estao passando um pouco de dificuldades financeiras, e ela tem 3 filhos adolescentes, um deles indo a faculdade. Se ela nao tivesse me contado tudo isso, eu jamais acreditaria, porque ela sempre esta com um sorriso no rosto, sempre preocupada com todo mundo, super carinhosa, atenciosa, nem parece que eh ela, na verdade, que precisa de atencao.
     Quarta-feira depois da aula, resolvi ir com ela visitar os pais no asilo. Chegando la, me deparei com a dona Sally, essa senhora negra, pequena, encurvada na cama, com a respiracao dificil, nao lembrava nada a senhora cheia de vida que ela foi um dia, como na foto que estava ao lado de sua cama. Ela ja estava ha 2 dias sem comer nem beber nada, em estado de coma, e os medicos lhe deram apenas 3 semanas de vida. Na cama ao lado, seu esposo, senhor Richard, ja sem dormir ha dois dias, tudo o que fazia era olhar pra esposa amada e chorar. E essa eh uma cena que nunca mais esquecerei!
     No dia seguinte, estava comentando sobre isso com a Melissa, e ela me disse que adoraria ir visitar os pais da Amanda com o marido, Ian, que eh musico. Ele canta musicas evangelicas e disse que ele ficaria muito feliz em tocar para eles. Eu achei a ideia formidavel, e nos encontramos no asilo ja no dia seguinte, sexta-feira, pela manha. Enquanto esperavamos pela Amanda, o Ian comecou a tocar no hobby de entrada do asilo, e foi muito lindo ver os velhinhos se juntando em volta para ouvir-lo cantar, e a esposa dele estava super descontraida conversando com eles, e eles olhavam para os filhos dela brincando e sorriam, e cantavam, e mexiam o corpo como podiam ao som da musica. Depois fomos ao quarto dos pais da Amanda, onde o Ian tocou violao e cantou para eles, uma musica mais linda que a outra, depois eles conversaram um pouco, e depois de uma oracao, fomos embora. Durante o resto dia dia fiquei pensando como aquela manha havia sido maravilhosa, ver o sorriso no rosto daquelas pessoas que talvez ja havia muito tempo que nao sabiam o que era sorrir, ou dancar, ouvir uma musica ao vivo, com palavras de inspiracao, falando sobre o amor de Deus por nos, mas uma coisa que nao sabia da minha cabeca era que talvez aquela musica tenha sido a ultima que a dona Sally tenha ouvido.
     Acordei hoje com a Amanda me ligando, me informando que sua mae havia morrido as 6 da manha de hoje, sabado. Seus pais estavam casados ha mais de 50 anos, e uma das ultimas palavras de sua mae foi para dizer que eles prometeram estarem juntos “ate que a morte os separe” e mesmo assim, ela gostaria de ser enterrada em um tumulo onde eles pudessem estar juntos depois que ele falecer tambem.
     Dona Sally era uma mulher temente a Deus, e esta nesse momento descancando em paz, mas a vida dela, pelo pouco que soube, serviu de exemplo a muita gente. E talvez a ultima licao que ela tenha ensinado tenha sido a mim, como eu disse a sua filha em uma mensagem de texto no dia em que voltei da visita ao asilo: “Obrigada por me fazer acreditar no amor novamente!”
     PS: Hoje pela manha a Melissa me mandou uma mensagem dizendo que ajudara com as despesas do velorio da dona Sally. Tenho ou nao amigos maravilhosos?!

1 comentários:

Tais Gomes disse...

Liiiiiii, impossível não chorar com essa postagem. Que experiência sensacional. É tão nítido ver o amor de Deus nesse casamento. Tanta gente desacreditada e o amor bem ali ao lado daquela cama! Olha, queria ter tido a oportunidade de conhecer essa família. Pessoas assim ficam pra sempre em nossa memória! Um grande Beijo

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